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Gioconda Rizzo: Pioneirismo na fotografia no Brasil

Gioconda Rizzo, em 2004. Foto: Angela Prada. 
Verso de identificação da foto. "Rizzo Photographia Central".
Foto de Gioconda Rizzo, 1914. Reprodução: Angela Prada.
Foto de Gioconda Rizzo, 1914. Reprodução: Angela Prada.
Gioconda Rizzo em 2004. Reprodução; Angela Prada.

Durante nossa conversa, Silvana falou do trabalho de seu bisavô e destacou o de sua avó, cuja importância é reconhecida atualmente pelos estudiosos da fotografia.    

   

    “Meu bisavô veio pequeno com a família para o Brasil e depois foi estudar fotografia em Nápolis. Ao voltar para o Brasil montou o Ateliê Rizzo, na rua Direita, num prédio que não existe mais. Teve 4 filhos, o primeiro foi estudar fotografia na Itália, mas se formou em medicina. A vovó, que era a segunda, se formou no ginásio, gostava de fotografia e começou sozinha, observando, ajudando, trabalhando com meu bisavô. Quando estava com 14 anos, ele montou um ateliezinho para ela, num outro prédio, e ela fotografava mulheres e crianças, porque as pessoas iam ao estúdio para fazer a foto, com fundo. Na época usava chapas de vidro, 18 x 24 cm, que eram retocadas com várias ferramentas, como o cinzel. Meu bisavô era o fotógrafo dos alunos da Faculdade de Direito. No andar abaixo do ateliê ficava um dentista. Como não havia anestesia, meu bisavô contava que ouvia gritos o dia todo. Ele também era o fotógrafo do Teatro Municipal e há uma foto dele com o Caruzo, o cantor, com dedicatória para ele, época em que São Paulo era um ovo, todo mundo se conhecia. A vovó contava que Mario de Andrade sempre passava pela rua. Além da fotografia, ele também trouxe o cinema para o Brasil e passava filmes em outras cidades do interior do estado, acompanhado de uma bande música, para chamar o público.” 

 

   Em suas pesquisas o professor Boris Kossoy, da ECA-USP, identificou, na década de 1910, 34 estúdios fotográficos na capital paulista. Entre os italianos Giovanni Sarracino, cujo estúdio ficava na rua 15 de Novembro, 20; Michele Rizzo, na rua Direita, 10C e depois 55, o qual no fim da década de 1890 se apresentava como o primeiro fotógrafo italiano radicado em São Paulo; e Oreste Cilento, na Av. Rangel Pestana, 116. Juntos, representavam metade desse mercado.

 

  Já André Lima, em O retrato da ousadia, afirma que no início do século XX a única exceção no mundo eminentemente masculino da fotografia era Gioconda Rizzo (1897-2004). O texto abaixo é de 26/3/2004.

 

   “Ver as fotografias de Gioconda Rizzo‚ a primeira fotógrafa brasileira‚ vale mais do que mil palavras. Mas conversar com esta elegante senhora de 105 anos‚ completados no dia 18 de abril‚ é uma experiência tão rica quanto apreciar os retratos feitos por ela no início do século 20, e ouvir curiosas histórias do tempo em que as fotografias ainda eram feitas em chapas de vidro e os poucos estúdios existentes em São Paulo ficavam obrigatoriamente no último andar dos edifícios‚ para captar a luz natural vinda dos tetos de vidro e dos janelões. Foi nessa época‚ quando era reservado à mulher o papel de dona de casa‚ que a paulistana Gioconda Rizzo‚ com apenas 14 anos‚ começou a fotografar. Fugia das aulas do Externato São José‚ na rua da Glória‚ para se dedicar à fotografia no estúdio do pai‚ o Ateliê Rizzo [...] ‘As primeiras chapas‚ tirei e revelei escondida do meu pai. Foram duas fotos de uma amiga. Quando ele descobriu‚ tive receio de que brigasse comigo. Ele me olhou com um ar severo‚ mas disse: ‘Essa menina ainda vai me passar a perna’.

 

  "A estreia dela na fotografia surpreendeu: Gioconda enquadrou apenas os ombros e o rosto‚ quando ainda era comum entre os fotógrafos retratar as pessoas de corpo inteiro‚ em pé ou sentadas. A atitude ousada de Gioconda rompeu com os padrões da época e chamou a atenção das damas da alta sociedade paulistana. Em pouco tempo‚ ela ganhou fama e clientela própria. As mulheres disputavam horários‚ no Ateliê Rizzo‚ para serem ‘retratadas’ por Gioconda. ‘Só atendia senhoras e crianças. Meu pai não permitia que eu fotografasse homens’‚ conta. Com tanto sucesso Gioconda nem precisava colocar anúncios nos jornais para atrair a freguesia, o que lhe rendeu um estúdio próprio‚ o Photo Femina‚ aberto pelo próprio pai no número 8 da rua Direita‚ próximo ao Ateliê Rizzo. Era a primeira vez que uma mulher atuava como fotógrafa profissional na cidade. Até então‚ a mão de obra feminina nos estabelecimentos fotográficos restringia-se aos serviços de apoio e de administração. ‘Eu preferia fotografar as mulheres. As crianças davam muito trabalho.’ Toda a produção fotográfica era feita por Gioconda. ‘Eu preparava as moças. Pensava em tudo’‚ recorda. Afinal‚ foi ela quem lançou em São Paulo a moda do véu‚ dos ombros à mostra e dos adornos de flores na composição dos retratos. Inovou também ao abolir a fotografia de corpo inteiro e criar novos ângulos‚ recortando o campo para ressaltar a expressão do rosto. Acabou por revelar a sensualidade das damas paulistanas‚ que elas mesmas nem sabiam que existia.

 

 "Uma das modelos preferidas era Wanda Massucci‚ amiga da família que participou de diversos ensaios ao longo dos anos. O Photo Femina funcionou entre 1914 e 1916. Gioconda foi obrigada a fechá-lo porque seu irmão mais velho‚ Vicente‚ um dia visitou o estúdio e percebeu que algumas clientes eram cortesãs francesas e polonesas‚ muito comuns em São Paulo. ‘A sociedade era muito rígida naquele tempo. Não tive escolha’‚ diz a fotógrafa.

 

  "Fotoporcelana:  ‘A alternativa foi voltar a trabalhar no estúdio do pai‚ onde passou a fazer retratos coloridos a óleo‚ fundos de paisagens aplicados em chapas e fotografias sobre porcelana. Em 1925‚ Gioconda aprendeu‚ com um espanhol de passagem pelo Brasil‚ a técnica fotográfica da fusão do esmalte sobre cobre‚ usada para joias‚ e a adaptou para a porcelana. ‘O mais difícil na fotografia era fazer a foto em porcelana.’ A técnica‚ totalmente artesanal‚ passava por várias etapas de aplicação de tintas e fundição. As fotografias eram feitas para ser usadas em pratos‚ joias‚ enfeites de mesa‚ caixas e túmulos. Gioconda as coloria com bisnagas importadas da Alemanha e da França. ‘A foto era transportada da chapa de vidro para a porcelana. A chapa de vidro era colocada sob a água para que soltasse uma película’.”

 

   Sobre o trabalho de colorização mencionado por André, Silvana esclarece que não se colore foto aplicada em porcelana. A película (em forma de gelatina), colorida ou PB, é colocada sobre a porcelana e queimada em forno em alta temperatura. O que se podia colorizar era a fotografia em papel, na época em que não existia fotografia colorida.

 

  

 

 

 

 

 

 

 

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